terça-feira, 3 de agosto de 2010

Anestesia de Grandes Primatas

A anestesia de grandes primatas é uma provação devido ao grande tamanho de algumas espécies associado à força física, agilidade e inteligência. Normalmente a mudança de rotina característica da preparação anestésica, por exemplo, pela restrição alimentar ou movimentação da equipe de trabalho, pode tornar o animal agressivo e estressado, o que dificulta e torna mais perigosa a indução anestésica. Na realidade brasileira, porém, esses procedimentos são realizados em indivíduos cativos, onde já existe alguma rotina de atividades e condicionamento, facilitando a contenção.

A contenção física ou a sedação de grandes primatas normalmente é impraticável, visto sua grande força muscular, bem como dentes e mandíbula poderosos, sendo na maioria das vezes necessário trabalhar com o animal em plano anestésico profundo, tanto quanto para um procedimento cirúrgico, mesmo que seja apenas realizado procedimento médico ou de manejo. As doenças cardiovasculares, como falência cardíaca congestiva, arteriosclerose coronariana e hipertensão, são comum nessas espécies, necessitando de maior cuidado na avaliação pré-anestésica, preparação do procedimento e no monnitoramento. Além disso, a condição de cativeiro tende a promover obesidade e consequente dificuldade respiratória em animais anestesiados. Grandes primatas, especialmente orangotangos, têm predisposição a laringoespasmos durante a anestesia e devem ser posicionados adequadamente.

Uma grande preocupação para a anestesia de grandes primatas é o nível de estresse que o indivíduo está submetido antes do procedimento. O ideal é que o paciente seja avaliado previamente e todo processo bem planejado no dia anterior à contenção. A administração de tranquilizantes por via oral antes da indução deve ser feita por um tratador acostumado com o animal e sem a presença da equipe médica estranha ao paciente. O suco utilizado para facilitar a administração do tranquilizante pode ser regurgitado durante a anestesia, provocando aspiração pulmonar. Mínimo estresse deve ser provocado para a injeção intramuscular do agente indutor, para que este aconteça na primeira tentativa. Uma grande agitação antes da indução da anestesia pode tornar o animal irrequieto e agressivo, algumas vezes tornando impossível a administração do anestésico mesmo por dardo.

Quando necessário, a administração do anestésico através de dardo deve ser feita seguindo as mesmas regras de tranquilidade. O anestesista deve estar devidamente protegido, uma vez que chimpanzés podem arremessar objetos e dejetos ao se sentirem ameaçados, inclusive retornar um dardo anestésico. Eles também frequentemente podem tentar segurar a roupa do atirador, tentando pegar abjetos como a própria arma.

Sugestão para leitura: Vilani, R.G.D´O.C. Contenção química e anestesia em primatas não-humanos. In: Kindlovits, A. e Kindlovits, L.M. Clínica e Terapêutica em Primatas Neotropicais, 2nd Edition, L.F. Livros, 2009. pag. 297-310.

2 comentários:

  1. Achei muito boa a iniciativa, principalmente pelo fato de haver diferenças entre espécies e não ter muita informação acessível sobre suas particularidades quando em relação a procedimentos anestésicos. Com certeza o blog será de extrema utilidade para os profissionais da área. Parabéns.

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  2. O truquezinho do "boa-noite cinderela" (suquinho com midazolam) ajuda bastante!

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